Nas
aulas em que dou natação, há, por vezes, um número significativo de alunos que
não as faz, alegando os mais variados motivos: período menstrual (apenas as
alunas, claro!), constipações, gripes, falta de equipamento, má disposição,
tonturas, infeções urinárias, alergias, etc, etc, etc... Às alunas e aos alunos
nestas condições, vou arranjando algumas tarefas alternativas, o que exige da
minha parte um gasto acrescido de energia no controlo de ambos os grupos: aqueles que fazem e os que estão nas bancadas.
Hoje, o
Rafael apresentou-me um justificativo assinado pelo seu encarregado de
educação, do motivo da não realização da aula; “O meu filho continua doente,
por isso não vai realizar a aula de natação, pelo que agradeço a sua
compreensão”.
Ao longo da aula apercebo-me do som de uma corneta
que, de forma difusa, tímida e espaçado no tempo, me lembra o comportamento de
alguns adeptos de futebol que tornam os encontros desportivos, verdadeiros
momentos de festa e de alegria. No entanto, fico na dúvida se o som é produzido
no espaço exterior ou interior do recinto. A aula vai decorrendo e continuo a
concentrar-me na prestação aquática dos meus alunos, mas um novo som irrompe
nos meus ouvidos. Disfarçadamente, olho para as bancadas da piscina e tenho
quase a certeza de que o Rafael é o mentor sorrateiro daqueles momentos de
alegria. Como aquele que não quer dar muita importância ao ocorrido, continuo a
dar dicas aos alunos que estão a fazer a aula, e ao passar na zona das bancadas
digo para o Rafael: “Bravo, Rafael! Continua a apoiar o Santa Clara, mas não te
esqueças da corneta”. A partir daí, e desfeito o mistério da situação, o Rafael
como por magia arrumou a corneta na sua mochila. “Bravo Rafael, o Santa Clara
precisa de ti”.